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domingo, 27 de outubro de 2013

GUIA PARA ASTROFOTOGRAFIA DE GRANDE CAMPO (WIDE-FIELD) 1º. PARTE - TRIPÉ FIXO



Nessa primeira parte, gostaria de falar um pouco sobre astrofotografia sem o uso equipamentos mais complexos, utilizando apenas uma câmera e um tripé simples para fotografia.


Imagem da região do cruzeiro do sul fotografado em Rafard/SP - 05.06.2013 - utilizando Tripé fixo e  uma câmera Nikon D5000 - ISO 3200 - 30 segundos de exposição

ESCOLHENDO OS EQUIPAMENTOS 

Como dito no início, vamos tentar usar o mínimo de equipamento. Muitas pessoas acham que esse tipo de fotografia só é possível com câmeras profissionais e montagens equatoriais que compensam a rotação da terra. Isso não é uma verdade, obviamente que uma boa câmera e uma montagem equatorial abrem um leque muito maior de possibilidades, mas é totalmente possível utilizar câmeras compactas para o serviço. Porém alguns requisitos mínimos são necessários.

TRIPÉ


Não há nenhuma exigência para este acessório, pode ser qualquer um que seja estável e suporte o peso da sua câmera.

CÂMERAS

Como já disse, se puder ter uma câmera DSLR essa é a melhor forma de se conseguir boas astrofotografias de grande campo, porém não é indispensável, as compactas e outros modelos de lente fixa podem ser um bom inicio.

As principais características que uma câmera para astrofotografia deve possuir são: 

Controle manual de ISO: Para quem não sabe, ISO é basicamente o controle sensibilidade a luz que câmera possui. Nas câmeras antigas o ISO (ou ASA) era modificado de acordo com a sensibilidade do filme, já nas câmeras digitais isso é feito aumentando eletronicamente o ganho do sensor. De modo simplificado, quanto mais alto o ISO utilizado, mais luz a câmera capta em menos tempo de exposição. Isso possibilita fotografar em ambientes com pouca luz. Abaixo temos duas fotos com o mesmo tempo de exposição, a primeira com ISO 200 e a segunda com ISO 6400, notem a diferença:

Imagem da esquerda ISO 200  / Imagem da direita ISO 6.400

Porém esse ganho traz um mal que todo equipamento eletrônico sofre quando é "sobre carregado", ele aquece. Esse aquecimento gera um efeito indesejável na fotografia chamado de ruído.  Ele é percebido nas imagens como um "granulado" (muito normal em fotos tiradas por celulares e outras câmeras mais simples em ambientes com pouca luz).
Podemos perceber claramente esse defeito nas fotos abaixo, onde na da esquerda foi usado um ISO 200 e na direita um ISO 6400.

Esquerda: ISO 200 e 30 segundos de exposição / Direita ISO 6400 e 1 segundo de exposição


Controle manual do tempo de exposição (velocidade do obturador):  Uma maneira de conseguir capturar mais luz sem causar muito ruído, como acontece com ISO alto, é utilizando o controle da velocidade do obturador, fazendo com que o obturador fique aberto por um período suficiente para que ele consiga captar luz para gerar a imagem.  Podemos comprovar isso utilizando novamente as imagens anteriores. Onde na primeira foi utilizado um ISO baixo (200) e 30 segundos de exposição e na segunda um ISO alto (6400) porém apenas 1 segundo de exposição, observem que ambas captaram quase a mesma quantidade de luz apesar da grande diferença de tempo, porém, a imagem feita com 30 segundos e ISO 200 possui uma qualidade muito superior, pois nela o ruído é baixo. 

O ideal seria possuir também controle sobre a abertura do obturador, quanto mais aberto, mais luz capta, o que ajuda na astrofotografia. Porém não é condição necessária. Logo, o que precisamos basicamente é ter controle do ISO e do tempo de exposição.  Uma boa câmera para astrofotografia deve permitir no mínimo 15 segundos de exposição. Aconselho fortemente as câmeras da marca Canon, para qualquer tipo de câmera (compacta, super zoom, DSLR), porém quando se trara de DSLR qualquer câmera vai possuir todos esses controles e muitos outros, sendo a Canon e a Nikon as mais indicadas para astrofotografia. (Eu uso uma Nikon, mas a preferência mundial para astrofotografia é a Canon).

Se for optar por uma câmera compacta, escolha uma Canon, pois elas permitem um controle manual fantástico, além de que, temos um grande amigo chamado CHDK que é um firmware que utilizamos para modificar (de maneira simples) essas câmeras compactas possibilitando usar tempos de exposição e ISO "sem limite". No final do artigo vou ensinar como fazer essa modificação.

DETERMINANDO A DATA E LOCAL

Provavelmente a determinação do local (sítio) e da data da fotografia é o principal fator para se conseguir um bom registro.

Local: Quando deseja-se fazer uma astrofotografia de espaço profundo, ou como é o caso, de grande campo, é desejável que você esteja o mais distante possível de fontes de luz. Portanto, se afastar dos centros iluminados da cidade é muito importante. Em cidades pequenas é possível conseguir algo bem razoável bem próximo das periferias, porém em grandes centros não tem outro jeito, é necessário dirigir alguns quilômetros para longe da cidade.

Data:  Quando me refiro a data, não falo sobre um período anual, mas sim mensal. Como falamos anteriormente é necessário fugir das luzes para se obter um bom registro, mas tem uma luz que infelizmente ou felizmente não podemos fugir em determinado período do mês.
A luz da lua, principalmente em sua fase cheia é um grande problema para captura de luz de outros objetos menos brilhantes como é o nosso caso, portanto, evitemos essa época.

Não posso deixar de falar que exitem épocas do ano que beneficiam, seja por possibilitar vermos partes mais densas da Via Láctea, seja por outros motivos, como períodos mais secos onde temos menos formações de nuvens. Portanto, como em qualquer modalidade de fotografia, é necessário fica na "espreita" de uma boa oportunidade.

Todas as fotos abaixo foram feitas utilizando a mesma configuração, a mesma câmera e com foco na mesma região da Via Láctea, as 3 demonstram as situações descritas acima, sendo que a primeira mostra a poluição luminosa no centro da pequena cidade de Rafard, a segunda a influência da luz da lua ainda no inicio de sua fase crescente, e terceira a visão do centro galáctico a 10 km da cidade.

Via Láctea e poluição luminosa da cidade

Via Láctea e luz da lua crescente


Via Láctea sem influência de luzes

EXECUTANDO A FOTOGRAFIA - EXPOSIÇÃO ÚNICA (1 FRAME)


Esse tipo de astrofotografia de grande campo é indicada para quando se deseja fotografar algum objeto que esteja na terra (uma construção, uma árvore etc ..) e ao fundo o céu.

Capela de Santo Expedito e  região do Cruzeiro do Sul  - Rafard/SP - Nikon D5000 -
30 s exposição - ISO 3200

Ipê e a região do Cruzeiro do Sul - Rafard/SP - Nikon D5000 -
30 s exposição - ISO 1600

Vamos ao que interessa, vejamos como devemos configurar a câmera para realizar as fotos:

Modo de captura: Manual ou se não disponível, um que possibilite o controle do tempo de exposição e ISO (algumas câmeras mais simples trazem essa opção como modo noturno).

Autofocus: Deixar desligado ou manual. Dica: O foco deve ser no infinito, use o foco automático para focar algum objeto distante na terra e quando focado desligue o auto focus.

Tempo de exposição: Como vimos acima, utilizar um ISO alto traz o problema do ruído, portanto vamos utilizar o máximo de exposição possível em conjunto com o ISO mínimo necessário para captar a luz com menos ruído. Mas como determinamos esse tempo máximo permitido?

Quando utilizamos um tripé fixo para astrofotografia nos deparamos com o maior problema que um astrofotografo possuí, o movimento de rotação da terra. Devido o movimento de rotação que é do oeste para o leste temos a impressão que os objetos no céu se movem do leste para o oeste, ou seja, nascem no leste e se põe no oeste. Apesar de ser aos olhos um movimento lento, quando fotografamos podemos perceber-lo com pouco tempo de exposição, Podemos nota-lo devido a ao problema que ele gera na imagem, "rastro" (trail), é exatamente o mesmo problema que temos ao fotografar algo em movimento , por exemplo quando fotografamos uma pessoa em um ambiente com pouca luz e ela se mexe fazendo com que a imagem fique "escorrida". Abaixo temos uma fotografia de 40 minutos em tripé fixo, que é uma outra modalidade de astrofotografia chamada de star trail, que serve exatamente para notarmos esse movimento de rotação. (Observem que o centro do circulo marca o polo sul celeste)

Star trail de 40 min de exposição
Tendo em vista esse problema, você já deve ter imaginado que existe um tempo máximo que podemos deixar a câmera fotografando para que isso não ocorra. Existe uma formula bem básica para calcularmos esse tempo máximo aproximado:

Tempo de exposição máximo = 600 / distância focal

Onde 600 é um coeficiente e a distância focal é a distância focal da objetiva ou do telescópio que está sendo utilizada. Por exemplo, se estamos utilizando uma câmera com uma objetiva 18-55 mm em 18 mm, poderemos regular o tempo de exposição para até 33 segundos (600/18). Lembrando que isso é um valor aproximado, câmeras compactas, que possuem um sensor menor, vão sofrer variação para baixo. O ideal é iniciar com esse tempo calculado, e fazer várias imagens diminuindo o tempo até que o trail não seja mais aparente.

Esse é um calculo básico e fácil de ser feito sem nenhum recurso, porém para quem deseja um cálculo mais preciso deixo a página de fórmulas do amigo e astrônomo José Agustoni (Zeca) , lá você vai encontrar, além dessa, uma infinidade de informações sobre astronomia e astronáutica. (Aprendi muita coisa com ele, vale a pena conferir).

ISO: Como já vimos anteriormente, o ISO vai nos ajudar a captar luz suficiente para que vejamos os detalhes dos objetos com pouca luz. Essa sensibilidade vária de câmera para câmera, portanto, a melhor forma de estipular o ISO a ser utilizado é realizar a mesma foto com o mesmo tempo de exposição e ir variando o valor do ISO para posteriormente escolher qual ficou melhor. Geralmente para este tipo de fotografia o ISO utilizado fica entre 800 e 3200. (Eu sempre faço pelo menos uma com 800, uma com 600 e outra com 3200)

Redução de ruído para ISO alto e longa exposição: Se sua câmera possuir essas opções, deixe-as ligadas. Com a opção da redução de ruído a foto levará o dobro do tempo, pois ele realiza uma segunda foto com o obturador fechado para realizar um processo chamado de subtração de dark frames, o qual não entrarei em detalhes de neste momento. Posteriormente explicarei como se faz isso através de softwares específicos.

Abertura do obturador: Deixar na máxima possível.

Distância focal: Aconselho usar a mínima possível (no caso das compactas, "sem zoom"). Pois assim podemos fotografar um campo mais amplo além de captar mais luz.

Formato da imagem: Caso exista a opção de imagem em formato raw, sempre utilize essa opção, caso não tenha, deixe na melhor qualidade possível.

Balanço de brancos: Se o formato da imagem for raw, o balanço de brancos não é importante, pois o mesmo será ajustado no tratamento da imagem. Caso seja em outro formato, ajuste para luz do dia em lugares sem poluição luminosa e para tungstênio caso esteja em um lugar com poluição luminosa.

Atraso do obturador ou trava do espelho: Essa opção é disponível e necessária somente para câmeras DSLR, pois evita que o tranco na hora de levantar o espelho da frente do sensor faça a câmera vibrar.

TRATANDO AS IMAGENS

Depois de uma longa noite de capturas espetaculares, o trabalho ainda continua. Não vou entrar em detalhes específicos sobre tratamento, pois é assunto que demanda um artigo inteiro, porém vou tentar passar alguma noção básica.

Provavelmente uma imagem bem feita, já será bem impressionante até mesmo sem nenhum tratamento, porém a imagem tem um ganho gigantesco quando se aplica o mínimo de tratamento, assim como pode ser visto nas imagens abaixo.


Imagem da direta sem tratamento e esquerda com tratamento, basicamente ajuste de curvas, níveis, balanço de cores


O software a ser utilizado pode ser qualquer editor de imagens que possibilite ajustes como curvas, níveis, balanço de cores, brilho e contraste etc. É muito comum o uso do famoso Photoshop, porém existe milhares de outras opções, inclusive algumas gratuitas. (Para quem não tem muita experiência com tratamento de imagens o Adobe Photoshop Lightroom é bem simples, intuitivo e traz excelentes resultados, principalmente quando se trata de imagem em formato raw).

Basicamente o que você vai fazer é fazer uma cópia do arquivo original (para não ter perigo de estraga-lo), abrir em um desses editores de imagem e ir aplicando os ajustes citados anteriormente até que a imagem fique do seu gosto. Dica: Vá duplicando os layers antes de ajustes significativos, assim você pode ir comparando os resultados antes e depois.

Finalizamos então essa primeira parte sobre astrofotografia. Na próxima parte falaremos sobre o mesmo tipo de astrofotografia, porém explicarei como registrar e processar múltiplas imagens ao invés de apenas uma, conseguindo assim fotografar objetos com pouca luminosidade, assim como galáxias e nebulosas.

CHDK CANON


O CHDK é um programa que possibilita utilizar recursos avançados na maioria das câmeras da família Powershot da Canon. É muito útil, e o melhor é que ele não altera o firmware original da câmera, você vai apenas carregá-lo no cartão de memória e utilizar quando for conveniente.

1º.)  Acesse o site http://chdk.wikia.com/wiki/CHDK e procure pelo modelo da sua câmera. Faça o download do firmware .

2º.) Extraia o conteúdo do download dentro do cartão de memória utilizando um leitor de cartão. Observação: é necessário utilizar o leitor de cartão, se você acessar o cartão através do usb da câmera não vai funcionar.

3º.) Insira o cartão na câmera e ligue-a mantendo pressionado o botão play (botão que você usa para visualizar as imagens na câmera). Obs: Se você ligar com o botão liga e desliga normal a câmera não carregar o CHDK.

4º.) Algumas câmeras possuem várias versões de firmware. Você vai observar que quando extrair o conteúdo para o cartão, vai ter um arquivo chamado "vers.req" ou "ver.req" dependendo do modelo da sua câmera. Este arquivo permite ver a versão do firmware da sua câmera entre outras informações. Caso você verifique que o firmware baixado não confere com a versão da sua câmera, volte ao site e faça o download do firmware correto. (Obs: Não ocorre nenhum problema ao carregar um firmware incorreto, apenas não funciona)

Para visualizar a versão, mantenha o botão "Set"  pressionado e pressiono o botão "Display" se você continuar com o botão "Set" pressionado e continuar pressionando "Display" você visualizara outra informações como o numero total de fotos que a câmera já fotografou até a presente data.

Se tudo correu bem, sua câmera já vai estar rodando o CHDK. Ainda com a câmera ligada no modo Playback, pressione o botão menu, vá até a opção "Firm Update", opção que agora deve estar disponível. Se não visualizar essa opção, tente pressionar novamente o botão Playback 2 vezes, esperando 2 segundos entre uma e outra.

Quando selecionado a opção "Firmware Update" sua câmera inicializara o CHDK. Para ligar a câmera e carregar o CHDK sempre ligue utilizando o botão Playback.

Para acessar as opções avançadas do CHDK, pressione o botão de "atalho" da sua câmera e aparecerá um peque "<ALT>" na parte inferior da tela, ai basta pressionar a tecla "Menu" para acessar as opções do CHDK, caso queira acessar as opões padrão do menu, basta pressionar novamente a tecla de atalho, o "<ALT>" vai sumir e você terá acesso ao menu original novamente.

Se você quiser que toda vez que você ligue a câmera, o sistema carregue o CHDK, você deve acessar o menu do CHDK, procurar pela opção "Debug Parameters", dentro dessa opção selecione "Make Card Bootable..." e pressione a tecla "Set". Remova seu cartão de memória e mova a trava de proteção contra gravação para a posição bloqueada, volte o cartão na câmera. Agora toda vez que você ligar a câmera ele carregara o CHDK, se quiser que inicialize normalmente, basta voltar a trava para posição destravada.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

MEU PRIMEIRO TELESCÓPIO - GUIA PARA INICIANTES


A dúvida que todo iniciante em astronomia tem ao decidir iniciar no fantástico mundo da astronomia é "qual telescópio comprar?". Nesse texto você não vai encontrar uma resposta direta para essa pergunta, mas tenho certeza que vai te auxiliar a fazer uma boa escolha.


Antes de pensar em adquirir um telescópio devemos fazer outras perguntas,  "Qual o meu grau de conhecimento em astronomia?", "Quão habituado estou à observar o céu, reconhecer e localizar constelações?", caso sua resposta seja "pouco" ou "nada", você deve rever o seu ponto de partida. 

A chance de uma pessoa, sem o mínimo de preparo, comprar um telescópio e utiliza-lo apenas algumas poucas vezes ou acabar se decepcionando é muito grande. Por isso, aconselho que primeiramente tente pelo menos se habituar com o céu noturno. Falando de maneira bem direta, "não adianta você ter o melhor equipamento do mundo e não saber para onde apontar ou o que está vendo".


Muitos amigos indicam iniciar com um binoculo, eu particularmente não acho que seja necessário passar por um binoculo antes de um telescópio, obviamente que um bom binoculo é um excelente primeiro telescópio, alem disso ele é uma ferramente auxiliar importante nas observações e nunca deixará ter utilidade. Acredito que a melhor forma de iniciar o estudo do céu seja utilizando apenas os nossos olhos, pois possuímos um campo enorme de visão (quase 180 graus) e praticamente toda a observação necessária para o entendimento básico do céu pode ser feita sem a necessidade de equipamentos e o melhor de tudo, é de graça! 



O uso de mapas celestes em conjunto com a observação é imprescindível, hoje possuímos uma infinidade de programas que simulam o céu, aconselho fortemente que baixem o programa gratuito Stellarium para pc/mac e para Android o Google SkyMap ou/e o SkyEye.



Sem mais delongas, vamos ao que interessa. A primeira coisa que devemos ter em mente é que esse negócio de "tantas vezes" não existe quando estamos falando de telescópios de verdade.  Portanto não leve em consideração quando você lê em anúncios algo parecido com isso " Telescópio de até 1500 vezes de aproximação". 


O que realmente importa em um telescópio é, em primeiro lugar, a qualidade componentes utilizados para sua construção, após a qualidade vem a abertura ( o diâmetro da lente ou espelho primário).  É exatamente essa abertura que vai determinar o aumento máximo que o equipamento pode alcançar sem que a imagem fique sem qualidade. Usamos uma formula bem simples para determinar o aumento máximo aproximado que um telescópio pode atingir:

Aumento Max = 2 x diâmetro da objetiva (mm) 

Exemplo:

Temos um telescópio de 150 mm de abertura, logo o aumento máximo aproximado seria de 2 x 150, ou seja, 300 vezes.



Logo vemos que os anúncios de telescópios de 114 mm que aumentam até 1500 vezes é uma tremenda propaganda enganosa. Todo anúncio sério destaca 2 principais características do equipamento, a primeira é a abertura que acabamos de ver e a segunda é a distância focal (distância necessária para que a luz alcance o foco), geralmente expressa em milímetros. A forma mais comum de vermos essas duas informações é o diâmetro da objetiva em milímetros ou polegadas, seguido de um F e um número que representa a distância focal.



Exemplo: Telescópio 150 mm F/8 



Isso significa que o telescópio em questão possui 150 mm e que a distância focal é 8 vezes o diâmetro da objetiva, ou seja, 1200 mm.



Sabendo essas informações, surge outra questão. Como se faz para variar o aumento de um telescópio? Existem um zoom? 

Não existe um zoom, para isso utilizamos uma lente chamada de ocular. Ela é a responsável pela magnificação da imagem captada pela objetiva. Toda ocular vem com uma marcação em milímetros da sua distância focal, e é essa informação em conjunto com a distância focal do telescópio que necessitamos para calcular o aumento. A formula para calcular o aumento é a seguinte:

A = D / d

Onde, A = Aumento, D = Distância focal do telescópio, d = Distância focal da ocular

Exemplo:

Temos um telescópio de 150 mm F/8 e queremos usar uma ocular de 10 mm. Qual seria o aumento? 

D = 150 x 8 = 1200 mm
d = 10 mm

A = D / d
A = 1200 / 10 = 120 vezes

Como vimos anteriormente esse telescópio suporta um aumento aproximado de até 300 vezes ( 2 x 150), portanto, sabemos que podemos utilizar tranquilamente uma ocular 10 mm que nos proporcionará menos da metade do aumento máximo.


TIPOS DE TELESCÓPIOS


Para poder escolher precisamos conhecer os tipos de telescópio disponíveis, suas vantagens e desvantagens e também suas aplicações. Vou listar abaixo os tipos mais comuns de telescópios e suas principais características. 

Basicamente existem 3 tipos de telescópio, são eles:


REFRATORES 

Telescópio refrator

São provavelmente os mais conhecidos, chamados popularmente de "lunetas". Como o próprio nome já diz, ele atua por refração da luz, a qual passa por uma lente objetiva e converge em um determinado ponto (foco) para formar a imagem, depois desse ponto temos a ocular, que funciona de maneira muito similar a uma lupa, magnificando a imagem gerada pela objetiva.
Diagrama telescópio refrator









Vantagens

  • Quase não exige manutenção.
  • O tubo fechado proporciona maior estabilidade na imagem além proteger contra poeira e umidade.
  • Geralmente oferecem imagens mais nítidas e com alto contraste.


Desvantagens

  • Refratores mais acessíveis apresentam aberração acromática.
  • Refratores de grande abertura são extremamente caros, grandes e pesados.


Dica: Se optar por esse modelo, fuja dos telescópios de brinquedo vendidos em lojas de departamento ou no mercado livre, aqueles que possuem anúncios dizendo "1000 vezes de aumento" ou algo similar. A maioria desses telescópios são construídos com materiais de péssima qualidade e vão levar você a desanimar já no inicio. Procure por modelos que aceitam oculares de 1,25 polegada (Padrão atual). 

REFLETORES (NEWTONIANOS)


Telescópio refletor
A principal diferença entre o refletor e o refrator (luneta) é que ao invés de possuir um lente para capturar a luz, ele utiliza um espelho côncavo (espelho primário) o qual capta a luz e a reflete para um segundo espelho menor (secundário) por vez que reflete para a ocular. Esse tipo de telescópio foi inventado pelo famoso físico Isaac Newton, por isso também são conhecidos como Newtonianos.
Diagrama telescópio refletor
 








Vantagens
  • Não possui aberração acromática como os refratores convencionais. 
  • São mais compactos e leves que os refratores de mesma abertura. 
  • São relativamente baratos se comparados qualquer outro tipo de telescópio. 
  • Sua construção não é tão complexa, portanto torna-se possível construí-los de forma caseira. (Quem tiver interesse em construir o seu próprio telescópio pesquise pelo termo "ATM, que significa, Amateur telescope making". O site do  Observatório Phoenix possui um excelente tutorial sobre como construir o seu próprio telescópio. , também existe um grupo no yahoo chamado ATM Brasil.


Desvantagens

  • Obstrução do feixe de luz pelo espelho secundário, o que pode atrapalhar para observação planetária. 
  • Devido o tubo ser aberto, ocorre um turbilhonamento de ar dentro do mesmo (Convexão). O tubo aberto também permite que a umidade do ar entre em contato direto com o espelho e a parte interna do tubo, podendo danificar o espelho com o tempo. 
  • Maior necessidade de manutenção, aproximadamente a cada 5 anos torna-se necessário realizar a realuminização do espelho (substituição da camada de alumínio que cobre o espelho por outra para manter sua propriedade refletiva). 
  • A óptica pode desalinhar com certa facilidade quando efetuado transporte ou manuseio brusco do tubo óptico, tornando necessário realizar a colimação do espelho (processo bastante simples).
Telescópio catadióptrico tipo Schmidt


CATADIÓPTRICOS

São telescópios de construção mais complexa, que utilizam tanto lentes como espelhos para coletar e trazer a luz para o foco. Basicamente a luz refrata por uma lente corretora chegando ao espelho primário onde é refletida para o espelho secundário e dele para a ocular. Os tipos mais comuns de catadióptricos são o Schmidt e o Maksutov .

Diagrama telescópio catadióptricos (Schmidt)

Vantagens
  • Compacto e portátil. 
  • A óptica fica bem protegida. 
  • Não possuem aberração acromática como alguns refratores e nem coma como alguns refletores. 
  • Devido a possibilidade de grande varição de distância focal, aceitam uma gama muito grande de acessórios para observação e astrofotografia.

Desvantagens
  • O espelho secundário é grande e causa obstrução da luz assim como nos refletores, além de diminuir o contraste das imagens. 
  • Não geram imagens tão brilhantes quanto telescópios similares de mesma abertura. 
  • Geralmente são bem caros (principalmente no Brasil).



TIPOS DE MONTAGENS

Conhecer apenas os tipos de telescópio não é o suficiente para decidir corretamente o qual comprar. Uma das coisas mais importantes em um telescópio é a montagem que vai recebe-lo e na maioria das vezes o iniciante não da importância para esse detalhe. 


Uma montagem para um telescópio não é algo simples como um tripé para fotografia. Ela deve possibilitar que você aponte com agilidade e precisão para qualquer ponto do céu, além disso, quando estamos observando objetos que estão fora da terra temos um grande problema, o movimento de rotação do nosso planeta. Principalmente quando estamos utilizando grandes aumentos, manter o objeto no centro do campo de visão não é tão simples. Abaixo vou falar um pouco sobre os principais tipos de montagem e como eles podem simplificar sua observação. 


Montagem Altazimutal



É o tipo de montagem mais simples e barata, possui apenas 2 tipos de movimento, altitude (para baixo e para cima - vertical) e azimute (de um lado para outro - horizontal). Uma boa montagem altazimutal possui ajuste fino e é muito simples de ser manejada. É uma montagem ideal para observação terrestre e pode ser utilizada para o astronomia utilizando pequenos aumentos quando não motorizada. Esse tipo de montagem é difícil de ser motorizada. Essa montagem, mesmo motorizada, não é boa para astrofotografia, possibilita apenas registros simples.



Ainda dentro das montagens altazimutais podemos destacar a montagem Dobsoniana. Este tipo de montagem altazimutal foi desenvolvida para suportar telescópios refletores grandes e pesados a um custo relativamente baixo. (É muito comum iniciantes optarem por telescópios nesse tipo de montagem devido ao baixo preço ou a facilidade de construção).




Montagem Equatorial


Normalmente bons refratores e refletores utilizam esse tipo de montagem. É provavelmente é o tipo de montagem mais indicada para se investir, pois ela aceita qualquer tipo de telescópio, possui uma ótima estabilidade e precisão, é de fácil motorização. É uma montagem altamente indicada para astrofotografia. Sempre que pedem minha opinião sobre qual montagem utilizar, eu aconselho a equatorial, apesar de geralmente ter um preço elevado e ser um pouco difícil de manusear no começo, ela compensa na utilidade.



Montagem Forquilha


A maioria dos telescópios Catadióptricos e outros telescópios com tubo óptico curto utilizam esse tipo de montagem. É uma montagem de fácil uso e normalmente é computadorizada, o que torna o uso ainda mais simples. Pode ser utilizada como uma montagem Altazimutal ou ser colocada em modo equatorial para astrofotografia de longa exposição. As principais desvantagens em relação a uma montagem equatorial é a menor estabilidade, restrições de tipos de telescópios que ela pode suportar e o alto custo.


O QUE SE PODE VER COM UM TELESCÓPIO


A tabela abaixo foi retirada do site da loja Armazém do telescópio e é uma poderosa ferramente ajudar na escolha do telescópio correto.


Tipo de Telescópio
Sistema Solar
Estrelas
Objetos de Céu Profundo
Refrator 70mm, com ampliação de 25x a 125x(Objetos do sistema solar geralmente requerem 60x ou mais)
Manchas solares, com filtro solar apropriado; As fases de Vênus; Crateras lunares  pequenas de 6km a 15km em diâmetro; Várias faixas de Júpiter além de suas luas galileanas; Os anéis de saturno, e ocasionalmente a divisão de Cassini, com boa visão; Urano e Netuno são visíveis como pequenos pontos esverdeados;
Estrelas duplas separadas por 2 arcossegundos com boas condições de visibilidade; Estrelas fracas com magnitude de 11.5;
Grandes aglomerados estelares , algumas das mais brilhantes nebulosas, virtualmente todos os objetos do catálogo Messier observando em um céu bem escuro (Embora em muitos deles com poucos detalhes revelados)
Refrator de 80-90mm, ou refletor de 110-114mm, ou catadióptrico de 90-127mm, com ampliação de 16x a 250x
Estruturas das manchas solares, com filtro solar apropriado; As fases de Mercúrio. As cordilheiras lunares e crateras com menos de 4km de diâmetro; As calotas polares de Marte e as maiores estruturas escuras durante oposições; Várias faixas adicionais em Júpiter, além das sombras das luas galileanas durante os trânsitos; A divisão de Cassini nos anéis de Saturno, além de 4 ou 5 luas de Saturno; Urano e Netuno visíveis como pequenos discos;
Estrelas duplas separadas por 1.5 acossegundos ou menos com boas condições de visibilidade; Estrelas fracas com maginite até 12;
Dúzias de aglomerados estrelares, nebulosas de emissão, nebulosas planetárias e galáxias;
Todos os objetos do catálogo Messier e muitos dos mais brilhantes do Catálogo NGC, de um céu bem escuro (Com alguns detalhes internos visíveis em muitas nebulosas, embora as galáxias pareçam riscos de fumaça);
Refrator de 100-125mm ou refletor de 150mm, com ampliação de 30x a 300x
Domos, cordilheiras e outras características lunares com 3 km de diâmetro; Superfícies escuras em Marte, frequentemente em oposições menos favoráveis;  redemoinhos, flâmulas e mais detalhes das nuvens de Júpiter com boa visão; Cinturões de nuvens muito fracos em Saturno; Muitos dos cometas fracos e asteróides mais brilhantes;
Estrelas duplas separadas por um arco segundo em boas condições de visibilidade; Estrelas fracas até magnitude de 13;
Alguns aglomerados estelares mostram muitos detalhes; Muitos dos detalhesb internos das nebulosas e alguma estrutura visível em muitas galáxias, de um céu bastante escuro;
Refrator de 150-180mm, ou Refletor de 200mm, ou Catadióptrico de 180-240mm, com ampliação de 50x a 400x
Características lunares de menos de 2km de diâmetro; Grandes nuvens e tempestades de poeira em Marte; 6 ou 7 luas de Saturno; As luas galileanas de Júpiter aparecem como pequenos discos em altas ampliações; muitos asteróides fracos começam a aparecer semelhantes estrelas fracas; As condições da atmosfera começam a limitar o nível de detalhamento que se pode observar em uma noite típica;
Estrelas duplas separadas por menos de 1 arco segundo em boas condições de visibilidade; Estrelas até magnitude 14;
Centenas de aglomerados estelares, nebulosas e galáxias (com evidências da estrutura espiral visível em algumas galáxias); muitos objetos do catálogo NGC e IC de um céu bem escuro (Detalhamento considerável das nebulosas e aglomerados);
Refletor ou Catadióptrico de 254mm ou mais, com ampliação de 60x a 500x
Durante as raras noites de excelente visibilidade, estruturas lunares de menos de 1,5km de diâmetro; Pequenas nuvens e detalhes significantes da superfície de Marte, com suas luas Fobos e Deimos como rara possibilidade; Uma variedade de detalhes das nuvens de Júpiter seus cinturões; A divisão de Enke nos anéis de Saturno frequentemente visíveis; A lua de Netuno, Tritão, é visível; Plutão se torna visível como uma pequena estrela;  A quantidade de detalhes dos objetos do sistema solar é sempre limitada pelas condições atmosféricas. independente da ampliação;
Estrelas duplas separadas por 0.5 arco segundos em noites de condições excelentes; Estrelas de magnitude até 14.5;
Milhares de aglomerados estrelares, nebulosas e Galáxias. Virtualmente todo o catálogo NGC e IC, com detalhes invisíveis em telescópios menores;


COMPARATIVO DE PERFORMANCE

As tabelas abaixo foram adaptadas para a realidade brasileira. Todos o telescópios citados abaixo estão sendo considerados em conjunto com montagens compatíveis com cada equipamento. Utilizando-a como complemento das informações acima, ela pode ser uma boa ferramente de análise, mas não deve ser levada como uma verdade absoluta, pois possui dados amplos e superficiais. Criei uma somatória dos pontos apenas para facilitar uma comparação grossa, o ideal é que cada um item seja analisado conforme suas necessidades.

Telescópio refrator



Uso / característica
De 50 a 80 mm
De 80 a 100 mm
De 120 a 150 mm
Preço médio
 De R$ 200 a R$ 600
 De R$ 600 a R$ 1500
 De R$ 2.300 a R$ 8.000
Portabilidade
10
10
6
Facilidade de montagem
10
6
6
Facilidade de uso
4
6
8
Performance para lua
4
10
10
Performance para cometas
2
4
8
Performance para estrelas duplas
2
8
10
Performance para galáxias e nebulosas
2
4
6
Performance para planetas
2
8
10
Total pontuação
36
56
64
Telescópio refletor



Uso / característica
De 70 a 150 mm
De 200 a 300 mm
Acima de 300
Preço médio
 De R$ 800 a R$ 1.500
 De R$ 1.500 a R$ 6.000
Acima de 6.000
Portabilidade
10
4
4
Facilidade de montagem
8
4
2
Facilidade de uso
8
8
6
Performance para lua
10
10
8
Performance para cometas
4
8
10
Performance para estrelas duplas
8
8
10
Performance para galáxias e nebulosas
4
8
10
Performance para planetas
8
8
10
Total pontuação
60
58
60




Telescópio catadióptrico



Uso / característica
De 90 a 127 mm
De 150 a 200 mm
De 200 a 400 mm
Preço médio
 De R$ 800 a R$ 2.500
De 3.500 a 10.000
Acima de 10.000
Portabilidade
10
8
2
Facilidade de montagem
8
8
4
Facilidade de uso
6
8
6
Performance para lua
10
10
8
Performance para cometas
4
6
8
Performance para estrelas duplas
6
8
8
Performance para galáxias e nebulosas
4
6
8
Performance para planetas
6
6
8
Total pontuação
54
60
52


Se você chegou até este ponto, percebeu que não existe um telescópio que satisfaça a todos, cada uma tem de analisar para qual finalidade quer um telescópio. Para observação?  Para astrofotografia? Para observação e astrofotografia? Irá observar e/ou fotografar o que? Objetos de céu profundo, sistema solar ou ambos? Outros fatores como como espaço físico, tempo e dinheiro são cruciais na decisão.